Relembrar a Liberdade com José Ernesto Cartaxo
No ano em que se celebra o 50.º aniversário do 25 de abril de 1974, o Colégio José Álvaro Vidal associou-se ao projeto "Pantógrafo - Desafio Criativo”, promovida pela Associação Memória É Cultura, e recebeu a visita de José Ernesto Cartaxo, resistente antifascista, de forma a, juntamente com os estudantes, “olhar sobre a Liberdade”.
Nascido em 1943, José Ernesto Cartaxo é natural do concelho de Vila Franca de Xira. Filho de pai operário de construção civil e de mãe lavadeira, completou a 4.ª classe, com 10 anos, e começou a trabalhar nos Telhais, onde ganhava 7,50 escudos ao final da semana. Mais tarde, aprendeu a profissão de serralheiro mecânico e estudou, à noite, na Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira.
No entanto, o “inconformismo” para com o panorama da altura e o cansaço “das injustiças, das desigualdades e da violência da repressão”, levaram-no, desde cedo, a participar activamente e clandestinamente no movimento associativo e, posteriormente, político. Foi delegado da Comissão Democrática Eleitoral às mesas de voto para a Assembleia Nacional de 1969, tendo, no ano seguinte, aderido ao Partido Comunista Português, onde integrou o Comité Central do partido.
E porque existem datas que ficam na memória, José Ernesto recordou a madrugada de 6 de julho de 1971, quando, às 6h10, a PIDE entrou pela sua casa e deteve-o, na sequência de uma denúncia por parte de Augusto Lindolfo, também militante do Partido Comunista. As autoridades levaram-no para Caxias, cerca de dez meses depois, foi julgado no Tribunal Plenário e acusado de “atividades subversivas contra a segurança do Estado”, sendo transferido para o Forte de Peniche, de onde foi libertado a 6 de julho de 1973.
“Estive isolado quase 80 dias, numa cela individual”
“Este período foi muito complicado. As torturas eram refinadas, nomeadamente a psicológica. Tiravam-nos tudo e deixavam-nos só com a cabeça, o corpo e uma cela pequena", confessou aos estudantes.
Mas passados dois anos, a vida mudou e o regresso à vida que outrora conhecia foi feito com algumas dificuldades.
“Foi difícil voltar a arranjar trabalho. Lembro-me de ter percorrido todos os concelhos limítrofes para conseguir qualquer coisa que me permitisse ganhar dinheiro. Mas, se não fosse o apoio da minha família e a Comissão de Apoio aos Presos Políticos, as dificuldades teriam sido ainda maiores”, declarou.
Após a sua libertação, José foi delegado sindical e membro da Comissão de Trabalhadores da MEC (1973-75), integrou a comissão executiva da CGTP Intersindical durante 31 anos, foi Presidente da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira (1993-97) e vereador da respetiva instituição de 1997 a 2003, e, de 2008 a 2016, foi Presidente do Instituto Bento de Jesus Caraça.
Mas quem ficou com as marcas das noites sem dormir e da “tortura física e psicológica”, tem, também, um pedido a fazer às novas gerações. José Ernesto instou aos alunos do Colégio José Álvaro Vidal que lutem “pelos vossos direitos e deveres”, que os exerçam e que façam de tudo “para que não voltemos ao passado”.
Obrigado pela partilha José!